terça-feira, 5 de abril de 2011

Capitulo 4


Capitulo 4

Havia se passado pouco mais de uma semana desde que Victor estava com Natássia.
O corpo de Aline fora cremado e as cinzas jogadas ao vento seguindo as instruções da vampira. Segundo ela, uma medida de segurança para que nada de mal pudesse ser feito tanto para o corpo como para o espírito da noiva do lobisomem.
Encontravam-se refugiados na casa da vampira, uma discreta residência de muros altos e cinzentos localizada no Morumbi. O local era consideravelmente grande para apenas sua morada, duas salas e uma cozinha espaçosa, dois quartos com um sendo suíte, além da grande garagem e área de serviço. Tudo mera fachada para o verdadeiro lar. Por dentro do armário embutido da suíte havia uma passagem que levava a uma escadaria, chegando até uma grande porta de ferro com símbolos estranho. Por detrás da porta havia apenas uma sala. O piso era de mármore escuro, havia um sofá grande de couro e uma TV de plasma, assim como uma mesa de mogno negro mais ao fundo. Uma das paredes próxima a mesa continha uma prateleira de livros semelhante a uma biblioteca. A vampira havia expressamente proibido ao lobisomem que ele mexesse em seus livros, alguns com cara de serem muito antigos, fato que não era problema, já que Victor não entendia romeno, grego, latim, entre outras línguas ao quais os livros foram escritos.
O cômodo não pareceria necessariamente sombrio senão pelo caixão ao centro da sala secreta.
Um grande caixão negro com entalhes em ouro, o mausoléu da vampira. Victor estava ali, deitado no sofá, esperando o despertar da criatura que repousava dentro do caixão. Não cofiava nem um pouco naquela mulher, tanto em sua natureza humana assim como em seus instintos primitivos, mas no seu caso, que opções ele tinha? Natássia já se mostrara útil explicando mais sobre ele mesmo e o que estava acontecendo.
Victor era um lobisomem, um puro-sangue nascido do cruzamento de um loup-garou com uma humana. Seria por isso que nunca conhecera seu pai? Sua mãe saberia de tal fato? Se sim, ela havia levado isso consigo quando falecera.
O lobisomem se acostumava aos poucos com a mudança de hábitos, a troca do dia pela noite, tinha que se acostumar com tal fator já que sua suposta salvadora adormecia ao nascer do sol e despertava quando este se punha.
Seu emprego provavelmente já teria ido para o espaço, mais de uma semana sem trabalhar, nem mesmo um simples telefonema avisando de sua ausência. Segundo Natássia, era necessário que ele desaparecesse. Poderiam estar esperando por ele, qualquer simples descuido poderia ser fatal.
O que todos estariam pensando? Ele e Aline simplesmente haviam desaparecido. A mãe dela havia sido morta, poderia ser um suspeito?
O som do caixão se abrindo fazia com que Victor despertasse de seus pensamentos erguendo a cabeça do sofá voltando assim sua visão para o caixão. A tampa se abria e Natássia se erguia lentamente vestindo uma camisola de seda negra semi-transparente como uma bela lingerie de seda por baixo, não havia como negar que aquela criatura era bela, sombriamente bela. As íris vermelhas se focavam em Victor enquanto assumiam novamente o tom negro:

- Boa noite...

A vampira se levantava deixando seu refúgio sagrado, os caninos se retraiam lentamente enquanto parecia se espreguiçar como uma humana comum após acordar de um pesado sono. Os longos cabelos soltos caiam pela lateral da face da vampira, tampando parcialmente um lado de seu rosto.

- Como foi seu dia? ... Conseguiu dormir um pouco?  - A voz de Natássia era suave e doce, como se realmente se preocupasse com este fato, coisa que Victor duvidava.

- Maravilhoso... Já faz uma semana que eu estou aqui em baixo sem fazer nada... Nem mesmo posso sair deste quarto... Não podia ser melhor...

- Quanta ironia no seu tom de voz, meu caro... Este é um mal necessário, como já havia lhe dito antes... Aqui você está seguro... 

- É mesmo? E afinal de contas... Por quê? ... E do que?

Natássia sorria, caminhava para a porta de metal com desenhos estranhos, runas e inscrições arcanas entalhadas no metal, suas mãos tocavam levemente a porta.

- Nesta câmara, você não pode ser rastreado... Nem mesmo pelo mais potente feitiço ou encantamento... A lua cheia terminou, este é o momento em que um loup-garou recém-despertado está mais vulnerável e confuso... O momento ideal de ser caçado... Pois normalmente ele ainda não tem conhecimento sobre o que realmente é... Não dominou a besta, não podendo controlar seus poderes e invocar seus dons... É o momento ideal para ser destruído... – A vampira sorria levemente, um sorriso mórbido. – Então neste momento nossos inimigos devem estar a sua procura...

- Nossos inimigos... Afinal... Do que você está falando?

- Homens... Sempre impacientes... Façamos da seguinte forma... Aguarde um momento enquanto me troco, não acho apropriado permanecer com estas vestes na sua presença... Não somos íntimos a este ponto... Quando voltar terá respostas para suas perguntas...

A mulher nem mesmo esperava a resposta de Victor, abrindo a porta e saindo do recinto subterrâneo. O lobisomem por sua vez deitava no sofá praguejando, mas tudo que restava era esperar.


****

Natássia não demorava a voltar e logo a porta de metal era aberta trazendo a vampira de volta ao recinto. Victor se levantava sentando no sofá enquanto Natássia caminhava até seu caixão, vestia calça de couro negro com botas de cano alto, um justo espartilho com o sobretudo de couro sobre o corpo.

- Muito bem... Por onde deseja que eu comece? – Dizia a vampira sentando sobre seu caixão.


- Você disse que é uma vampira e eu sou um lobisomem... Por quê?

- Sim... Eu sou uma Strigoi, ou vampira se prefere este termo... Meu corpo está biologicamente morto, mas este fato não impede que eu caminhe noite após noite por este mundo... Sou fisicamente mais forte do que qualquer mortal, pois não estou presa as limitações da vida e posso me tornar ainda mais rápida e forte usando os dons do sangue...

- Dons do sangue?

- Exato! Este é o nome que temos para nossos poderes sobrenaturais. Nossos sentidos são mais apurados, somos mais rápidos, fortes e resistentes que um mero mortal e ainda podemos amplificar estes fatores com o uso do sangue que tomamos de nossas vítimas. Da mesma forma que podemos utilizar o sangue para fechar ferimentos de forma instantânea.


- E quanto ao lance de virar morcego, água benta, cruzes, estaca, etc.?

- Alguns de nós realmente dominam a habilidade de se transformar em um animal, esta é um dom de sangue raro... Outros dominam outras habilidades como controlar o tempo ou invocar chamas... Estes são dons raríssimos, poucos de nós conseguem dominar tais conhecimentos...

A vampira fazia uma curta pausa. Esperaria por um momento para que Victor pudesse absorver todas as informações antes de prosseguir.

- Quanto à água benta... Cruzes... Não poder atravessar água corrente... Meros mitos... Fogo e luz do sol são mortais para nós... Uma estaca cravada no coração nos paralisa desde que ela transpasse o coração e permaneça ali.


- Então é assim que podem ser mortos... Fogo e luz do sol?

- Eu já estou morta, meu caro... Mas a melhor forma de se destruir um strigoi é cortando sua cabeça e queimando seu corpo e cabeça separados... Também empalar e queimar é uma forma eficaz... Pode-se também empalar e esperar o nascer do sol... A luz do maldito sol nos queima de uma forma horrível e dolorosa...


- Ok... Mas como vocês surgem?

- Vampiros “nascem” quando um strigoi toma o sangue de um humano e depois oferta um pouco de seu próprio sangue amaldiçoado... A transformação é algo doloroso, muitos não sobrevivem ao processo... Os poucos que conseguem sobreviver nascem para a escuridão como strigois...

- Quer dizer que você precisa sugar o sangue e depois dar sangue?

- Sim... Quando desejamos criar outro de nossa espécie... Também somos capazes de criar Dampiros...

- Dampiros?

- Sim... Não são muito diferentes dos licantropos que os loup-garous criam... Quando tomamos o sangue de um mortal, de certa fora o marcamos com a nossa maldição da escuridão... Um Dampiro nada mais é do que um humano que fora mordido por um strigoi e não recebeu seu sangue depois... Dampiros são seres úteis, mas não são tão poderosos como um vampiro... Porém são capazes de usufruir de alguns de nossos poderes como força, velocidade, resistência... Mais fortes que qualquer humano comum, porém ainda capazes de permanecer acordados ao dia e caminhar sobre o sol... Precisam de sangue para manter seus poderes ativos, mas ainda podem se alimentar normalmente da comida humana... Servos realmente úteis... Quando um strigoi não deseja criar um Dampiro, basta matar sua vítima...


Victor não conseguia esconder o quanto estava abismado, tudo aquilo seria realmente real? Não havia o porquê duvidar de Natássia, que novamente parecia esperar que o lobisomem absorvesse as informações.

- Estás bom para você assim? ... Ou deseja que eu explique novamente?

- Não... Não... Está bom... Mas sobre o...

- Lobisomens? – A vampira terminava a frase de Victor. – Como nós strigois somos os filhos da escuridão, vocês são os filhos da Lua... Devo lhe informar que é uma raça quase extinta nos dias atuais, devido aos séculos de cruzamento com os meros humanos...

- Quer dizer que eu sou filho de um lobisomem com uma humana?

- Provavelmente... As fêmeas puro-sangue são mais raras, o despertar parece ser mais fácil nos machos... É um puro-sangue como já havia lhe dito... Os loup-garous são influenciados pela lua... A intensidade de seus poderes esta ligada diretamente as fases da lua... A transformação durante a lua cheia é inevitável e é sobre a lua cheia que acontece o despertar, ou a primeira transformação...

Natássia realizava uma curta pausa, possivelmente Victor já entendia este fator.

- Quando um puro-sangue transformado na lua cheia morde um humano durante o ataque e este sobrevive... Ele se torna um licantropo... Durante a lua cheia ele irá se transformar, apesar de sua transformação não ser completa como a de um puro-sangue... Assim como a minha mordida transmite a maldição das trevas, a sua transmite a maldição da lua...

- Quer dizer que isso é como uma doença? ... Um vírus?

- Se quiser definir desta forma...

- E como podemos ser... Mortos?

- Da mesma forma que somos vulneráveis a luz do sol e ao fogo, vocês são a prata... Basta uma bala de prata em seus corações para lhes dar um fim... Ferimentos causados por prata também não se regeneram rapidamente... Outra forma eficaz é a decapitação seguida de se arrancar o coração e cremá-lo. 

- Mas nós lobisomens estamos quase extintos certo? ... Se nos transformamos na lua cheia... Como fazemos isso nas outras luas?

- Existe um grupo entre vocês loup-garou que se denominam Raça Pura... Lobisomens que apenas cruzam com lobisomens para manter a pureza do sangue...  Com o tempo, alguns de vocês são capazes de dominar a fera que habita suas almas e assim dominar a transformação... Na verdade, este é o meu objetivo com você...

- Como é? ... Você quer me ensinar a me transformar?

- Logicamente... Se não dominar esta habilidade, não será capaz de usar os dons da lua e também não será adversário para nenhum strigoi... Por isso o mantive aqui... Para que imaginassem que não está mais na cidade.


Victor se levantava subitamente, então era isso, ela queria um cão de briga para ajudar na sua vingança contra sei lá quem. O que afinal de contas ele estava fazendo ali?  Por outro lado, precisava de Natássia. Segundo a vampira, ela seria capaz de ensinar como se transformar, como dominar a besta, como ela mesma dizia.

- Muito bem... Mas contra quem estamos lutando? ... Quem é esse inimigo comum?

- Tudo ao seu tempo... Já tivemos explicações demais para uma noite... Acredito que seja o momento certo de começarmos seu treinamento...

Natássia levantava do caixão caminhando para a porta, abrindo-a e então voltava seu olhar para Victor.

- Não desejava sair deste local... Já é o momento certo... Vou lhe ensinar a dominar a besta e assim controlar sua transformação... Venha...

A vampira começava a subir a escadaria para fora do refúgio secreto. Victor por sua vez permanecia parado por alguns momentos e logo seguia Natássia. Os preparativos para a vingança estavam começando.

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