domingo, 16 de janeiro de 2011

Capitulo 2

Capitulo 2

 
Quanto tempo havia se passado desde o despertar da besta?
A lua resplandecia alto no céu sombrio, ainda faltava muito para o amanhecer, aquela era a noite da fera, a noite da besta selvagem devoradora de homens, a noite do lobisomem.
Não havia pensamentos na mente do grande lobo de pelugem negra que corria livremente pelos becos escuros, se esgueirando por cada canto sombrio, cada rua deserta, espreitando, caçando.
Em sua boca ainda o sabor e o sangue do cão de rua que havia encontrado a pouco, era este seu impulso, caçar, destroçar, o gosto da carne em sua boca, o sabor do sangue, o som dos ossos sendo partidos a cada mordida, a caçada, ele era o predador e tudo a sua volta era a presa.
A grande fera negra vagava silenciosamente, estava sobre as quatro patas e mesmo assim possuía dois metros de altura, o grande focinho fareja algo enquanto a boca se abria deixando os enormes e afiados dentes a amostra, os ouvidos atentos, passos lentos com as enormes patas, havia detectado algo, era o momento de satisfazer seus desejos selvagens.

O que antes fora Victor entrava na velha construção abandonada, passando ao lado da moto titã 150 discretamente escondida no que seria a recepção do prédio não acabado, o enorme corpo se movia silenciosamente, não havia luz alguma no local e mesmo assim era capaz de ver perfeitamente, seus ouvidos sensíveis detectavam cada som que havia ali dentro, o faro aguçado rastreando a localização de onde o odor de suor e perfume vinham.
O casal estava totalmente entregue ao prazer, a jovem de cabelos loiros deitada sobre um pano, o corpo todo nú entregue ao namorado cobrindo seu pequeno corpo com o dele, gemidos, carinhos, prazer, havia muito tempo que não faziam sexo e com o dinheiro curto não conseguiram um local mais agradável como um motel, assim a construção abandonada era perfeita para aquele momento. Ambos estavam totalmente entregues, o rapaz de corpo atlético penetrava sua parceira violentamente dando-lhe uma dose extra de prazer, a mulher com os olhos fechados respirava descontrolada, gemia tentando dizer algo, esta quase tento um orgasmo.

- Haaaaaaaa... Eu... Eu... Não agüento mais... Eu vou...

Os gemidos e gritos de prazer desapareciam, havia algo atrás deles, na escuridão a mulher podia ver dois grandes olhos dourados, olhos selvagens.

***

A fera se aproximava lentamente, os sons emitidos lhe dava a localização exata do que procurava. Atravessava o corredor estreito e sem acabamento ate o cômodo mais ao fundo, havia um casal ali, estavam acasalando, distraídos, indefesos, os passos lentos com as garras afiadas prontas a dilacerar. A fêmea gemia prazerosamente, mas subitamente parou, o rosto mudava rapidamente de prazer para receio, à enorme boca se abria deixando os dentes afiados a amostra.

***

O rapaz esta tão entregue ao prazer carnal que levara mais de um momento para perceber que avia algo errado, sua parceira havia parado subitamente, os olhos se abriam voltando a cabeça para o lado parecia haver alguém ali, droga, provavelmente algum mendigo olhando a cena e se masturbando escondido.
Porem o que eram aqueles olhos dourados na escuridão, o enorme porte nas sombras, era grande demais para ser um mendigo, um rosnado brotava das sombras, o rapaz tentara se levantar, aquilo poderia ser um cão de rua, mas era grande demais, e era tarde demais.


***

A besta havia sido percebida, a enorme boca se abria deixando uma densa fumaça sair enquanto o rosnado surgia entre os dentes, às patas tomando impulso impelindo o corpanzil de pelos negros contra o casal, o primeiro alvo era o macho, a fera investia escancarando a boca que se fechava sobre o pescoço do rapaz fazendo a cabeça despencar e rolar para um canto do cômodo enquanto abraçava o corpo com as enormes garras dianteiras dilacerando a carne e abrindo o dorso trazendo as entranhas para forra entre suas unhas afiadas
A mulher gritava tentando se levantar enquanto o corpo de seu namorado era destroçado pelo monstro, o pequeno corpo nu banhado pelo sangue do parceiro, toda a excitação de momentos atrás se transformava em medo e pavor, Verônica tentou gritar, mas era jogada para um canto por uma patada do monstro que agora saboreava a carne entre seus dentes. Dor, muita dor, seu ombro fora atingido pelas garras e sangrava muito, a carne dilacerada misturava seu sangue ao sangue do namorado que banhava seu corpo. Caída tentava se levantar vendo a cabeça do companheiro que lhe dera tanto prazer momentos atrás ao seu lado e o enorme monstro sobre as duas patas mastigando um dos braços que acabara de arrancar do corpo deformado.
Verônica estava aterrorizada, a fera sobre as duas patas era ainda maior, aquilo somente poderia ser um pesadelo, como um monstro como aquele poderia existir. Ele mal a percebia ali, parecia em estase com o sabor da carne de seu finado namorado, Verônica tremia e tentava conter o choro, não queria chamar atenção do monstro para ela, e silenciosamente tentava se esgueirar para fora do quarto inacabado, mas a fera parecia voltar à realidade quando ela fizera seu primeiro movimento ao virar o corpo para se arrastar até o corredor que era a única entrada para o cômodo, o lobo negro urrou ferozmente fazendo a garota gritar. Ele investia contra ela voltando para as quatro patas ficando por cima dela em um instante, a enorme cabeça se abaixava cheirando Verônica que tremia e soluçava, a boca se abria revelando os enormes dentes, a língua deslizava pelo ferimento saboreando o sangue de Verônica que ali estava, o focinho sobre os cabelos sentindo o cheiro do xampu enquanto a saliva pingava sobre o rosto de Verônica. Era seu fim a garota pensava. Que pelo menos fosse morta em uma única bocada, assim não sentiria dor.
O focinho se retraia onde os dentes apareciam ainda maiores, os olhos da garota fechados esperando pela mordida fatal.
Nada acontecia.
Verônica abria os olhos vendo o monstro, a cabeça erguida, o longo focinho com as narinas dilatadas sugando o ar, um urro, os pelos do enorme lobo negro se eriçavam dando a ele uma aparência ainda mais volumosa, a fera urrava com uma violência ainda maior ignorando totalmente Verônica e seguindo para fora do aposento, à garota estática simplesmente não acreditava, o que teria acontecido.

A fera investia seguindo o estranho odor que sentira levemente, o que seria aquilo, aquele cheiro trazia a tona um desejo infinito de destroçar e destruir, a construção era rapidamente deixada para trás, estava caçando, o que quer que fosse estava se movendo, fugindo, mas o rasto era nítido e fresco. Um salto o impulsionava para alem do grande alambrado que o separava da fonte do odor.
Estava na quadra de uma pequena escola, do outro lado da mesma quadra três pessoas, dois homens e uma mulher permaneciam parados, pareciam estar a sua espera.

- Um puro sangue...

As palavras eram ditas pela mulher em uma voz roca, vestia roupas negras assim como os demais, uma saia curta com botas e uma camisa de gola alta, os outros dois vestiam calças negras com coturno e jaquetas.

- Leon não vai gostar nada disso... Tínhamos apenas que rastrear essa coisa... – Dizia Fabio, um dos homens, baixo e com a cabeça raspada.

- Agora não tem mais jeito... – Retrucava o outro, Marcos, alto e magro com cabelos loiros curtos. – Ele ia nos alcançar... Vamos acabar logo com isso... Leon é precavido demais...

O enorme lobo permanecia em suas quatro patas, os lábios retraídos exibiam a grande fileira de dentes afiados, os rosnados como trovões brotavam de sua garganta, a fera urrava, as patas dianteiras jogavam o enorme corpo para a investida, os pelos eriçados deixavam o monstro com uma aparência ainda maior, a boca salivava soltando grandes baforadas a cada respiração investindo enquanto os três desconhecidos erguiam sua guarda, a mulher recuada atrás dos dois homens que grunhiam de volta para o lobisomem.

- LA VEM ELE.... – Gritavam enquanto suas pupilas assumiam um tom avermelhado.

A cerca de quatro metros do grupo, Victor em sua forma animalesca se impulsionou se lançando sobre o grupo, a boca aberta visava à cabeça do careca que havia gritado a pouco, uma única mordida seria suficiente.
A ferra urrava, acabara de ser jogado pra traz pelo chute do loiro por pelo menos dois metros, mal caia e já se erguia desta vez recebendo um potente soco no focinho vindo do careca, eram rápidos, se moviam como sombras, o murro fazia a fera ir ao chão, os dois homens de roupas negras sobre ele.
Fabio tentava agora agarrar o pescoço do monstro envolvendo os braços sobre ele para assim quebrá-lo, Marcos se mantinha na retaguarda enquanto a mulher nada fazia alem de assistir. O monstro se erguia assumindo as duas patas, as grandes mãos com garras afiadas tentavam alcançar seu atacante dependurado em suas costas enquanto o outro novamente investia como uma sombra socando com toda a força o franco esquerdo fazendo algumas costelas de quebrarem. O revide vinha, atingia com a pata seu atacante fazendo-o voar alguns metros batendo contra a cerca da quadra.

- MORRE MALDITO...

Gritava Fabio apertando ainda mais o pescoço da besta que já senti o ar faltando, os ossos logo não suportariam e quebrariam, tinha que quebrar o pescoço daquela coisa de qualquer jeito.
O lobo negro rosnou com violência enquanto tomava impulso jogando o próprio corpo para o alto e caindo de costas esmagando Fabio que cometia um erro mortal soltando o pescoço da fera ao ser prensado entre o chão e seu enorme e pesado corpo. Victor investiu, rápido e mortal cravando os dentes no pescoço do careca, a mandíbula se fechou com força fazendo a cabeça rolar.
A fera urrava com a boca e os pelos machados em sangue.

- FABIO...

O companheiro do morto grunhia para o lobisomem investido contra este, apenas uma sombra que se movia rápido demais para os olhos comuns, mas desta vez era interceptado sendo atingido no rosto pela enorme garra da besta negra tendo a face totalmente dilacerada do lado esquerdo. O monstro estava se acostumando com aquele tipo inimigo, deixando a visão de lado e aguçando os demais sentidos, assim era fácil saber os movimentos. Marcos nem ao menos se levantava e o lobo gigante já estava sobre ele, impulsionando e se lançando sobre o homem de roupas negras com o estranho odor, o braço que se erguia para proteger o rosto já dilacerado era estraçalhando pela mordida, a caixa torácica era esmagada e aberta pelas enormes garras. O monstro erguia seu troféu, a cabeça decapitada e desfigurada do loiro entre seus dentes, neste momento seus olhos dourados se voltavam para uma atenção, à mulher não estava mais ali. Um urro ecoou enquanto o monstro deixava os corpos que se desfaziam em cinzas, ela estava com um pouco de vantagem, aquelas criaturas eram rápidas, mas não havia como ele não a alcançar, o rastro era fresco demais.  A enorme criatura se movia rápido, a periferia era deixada pra trás com velocidade, o rastro mudava, estava tentando o confundir ou ganhar distancia.
Os enormes músculos impulsionavam o grande corpo negro, cruzava uma avenida fazendo vários carros pararem e derraparem causando algumas batidas ali, as pessoas assustadas com o enorme lobo negro que surgia de um beco e se lançavam para o meio da rua desviando de carros e jogando pedestres para fora de seu caminho ate novamente sumir entre as avenidas e becos.
Já estava na parte mais nobre da cidade e algo ali era conhecido para ele, conhecia aquelas avenidas, talvez não a fera, mas sim quem estava no subconsciente primitivo do monstro, escalava com facilidade o muro caindo em uma casa de porte médio, havia cheiro de sangue, o monstro avançava farejando e se mantendo nas quatro patas, mesmo com a casa toda escura podia ver sem dificuldade alguma, o odor de sangue e o estranho cheiro daquelas criaturas se intensificavam, entrava pela área de serviço indo para a cozinha, ali havia uma mulher de meia idade debruçada sobre a mesa, o pescoço quebrado, atravessava o corredor ate a sala onde se deparava com a cena.
A mulher de roupas negras estava próxima a outra mulher caída sobre o chão, o monstro rosnou, os olhos se inflamaram de uma forma assassina, ALINE. A mulher estava próxima ao corpo de Aline.
Ao ver o imenso lobo, a mulher de roupas negras tentava escapar, porem tarde demais, tentava alcançar a janela da sala, mas era interceptada pelo lobo negro, grunhia tentando se defender enquanto a face era dilacerada a mordidas tentando ainda golpear o rosto da fera sem causar o mínimo dano. Victor mastigava com violência a face da mulher passando para a cabeça enquanto dilacerava a mão que tentava esmurrá-lo arrancando o braço com seus braços musculosos e peludos, logo nada mais restava intacto da mulher que era destroçada com uma violência acima do comum. O lobo negro se erguia sobre as duas patas caminhando ate o corpo de Aline sem vida. Havia algo naquele momento, uma lembrança humana na fera que envolvia sua noiva sem vida entre os fortes braços recobertos de pelos negros.
Um uivo em meio à escuridão ecoava. Um uivo de dor e agonia.

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