sexta-feira, 24 de junho de 2011

Lua e Sangue - Livro Online


Lua e Sangue – Livro Online

Olá a todos... Como havia mencionado antes, estive afastado do blog por algum tempo devido a problemas pessoais, porem agora estamos voltando com tudo para dar a continuidade a trama de Lua e Sangue...
Acredito que alguns saibam, Lua e Sangue pode se tornar um livro real... Ainda vai levar algum tempo, mas a idéia a principio esta sendo bem vista tendo algum interesse por parte de editoras...

Enquanto este fato não acontece (e eu espero que aconteça) trago a versão online do livro:


Os Capítulos continuaram sendo postados aqui no blog e atualizados no livro online, sendo assim, ambas as formas de leitura estarão sempre atualizadas...

Aproveitando, gostaria da opinião de vocês sobre o que acharam da capa e contra capa do livro... Não sejam tímidos...

domingo, 19 de junho de 2011

Capitulo 5


Capitulo 5

A noite já estava alta quando os olhos do vampiro se abriram em seu grande caixão sombrio, as íris vermelho-escuras logo assumiam o tom negro comum enquanto a tampa era destravada e aberta. Estava em sua sala privada, a câmara ao qual realizava seu repouso durante o temido dia com o grande astro rei nos céus.
Leon observava Priscila adormecida ainda no caixão de ferro puro reforçado com travas de liga de titânio. A mulher tinha o corpo magro e a pele era pálida, com os cabelos lisos e loiros cortados a altura dos ombros, seus seios eram relativamente grandes demais para o corpo esguio, mas ele preferia assim.
Leon era o senhor da grande capital paulista, o rei da grande São Paulo como gostava de se intitular, era alto e magro, os cabelos escuros e longos sem corte lembravam um roqueiro ainda mais com as roupas negras. Rapidamente deixava o caixão caminhando pela sala de piso frio, não havia nada ali naquela grande sala além do caixão de ferro e uma pequena geladeira de onde retirava uma bolsa de sangue. A pesada porta era destrancada e aberta, dali se via uma sala ampla e larga com vários caixões simples de madeira, a maior parte destampados e vazios, o que indicava que seus donos já haviam despertado.

- Maldição...

Praguejou o vampiro por ter despertado após tanto tempo do por do sol, já eram quase nove da noite. Leon seguia para a próxima sala onde alguns de seus fiéis lacaios o aguardavam.

- Boa noite, meu senhor... – Dizia o primeiro dampiro ao avistar seu mestre seguido pelos demais, havia ali ao todo dezoito dampiros, dez homens e oito mulheres, todos reverenciavam o ser noturno que adentrava a sala.

- Onde estão Igor e seus homens? – Perguntava Leon ainda com o leve tom de irritação em sua voz. – Seus caixões estão vazios... Havia dado ordens para ninguém deixar o ninho...

- Meu senhor – Começava o dampiro que havia cumprimentado Leon primeiro. Era Rodolfo, um homem alto e magro com cabelos curtos e escuros. Usava vários brincos em cada uma das orelhas. – Igor esta nos limites do território, observando o movimento dos lobisomens na entrada da cidade...

- Ainda tenho mais este inconveniente... Entre em contato com ele, diga para retornar imediatamente...

- Sim meu senhor...

O homem se curvava perante Leon que seguia pela escadaria de ferro subindo para o andar térreo da casa onde seu ninho era formado, estavam em uma das varias mansões no Morumbi, uma casa grande e luxuosa que nada mais era fachada para o maior ninho de vampiros de São Paulo.
No grande escritório do andar térreo, o rei analisava as manchetes dos jornais e buscava informações na internet. A garota do ataque ainda estava hospitalizada, relatos sobre um imenso animal em uma das avenidas da periferia da cidade. Uma foto havia sido tirada em um celular, não era nítida, mas era suficiente para se ver uma enorme criatura de pelos negros.


- Puro Sangue...

Era tudo o que vinha em sua cabeça, um maldito puro sangue. Provavelmente estava em sua primeira lua, os três que enviara para rastreá-lo não voltaram. Idiotas, tinha dado ordens explícitas para não se aproximarem, puro sangues são extremamente perigosos, com toda a certeza foram destroçados. Bem feito, pensava o vampiro, apático.
Mas para onde ele havia ido? Esta era a grande pergunta que martelava a cabeça de Leon. A lua cheia já havia passado, o recém desperto não saberia dominar seus poderes, era o melhor momento para se livrar dele, mas ele sumira, nem mesmo Priscila com seus feitiços estava sendo capaz de rastreá-lo.
Teria simplesmente deixado São Paulo? Seria fácil demais e ainda havia o inconveniente de dois lobisomens que Priscila detectara quando tentara rastrear o puro sangue na noite passada. Outros puros sangues, possivelmente haviam visto as matérias nos jornais e afins, deduziram como o próprio vampiro que ali havia um lobisomem. Tudo que precisava era de uma alcatéia em sua cidade, uma luta por território era tudo o que não queria naquele momento. E ainda havia os caçadores. Tivera problemas com eles há alguns meses, perdera metade de seu ninho, ainda estava se restabelecendo naquele momento. Eles veriam as matérias e poderiam aparecer atrás do lobisomem, e porque não acabar com alguns vampiros de brinde.

- Ainda preocupado, meu amor?

A voz de Priscila trazia Leon de volta de seus pensamentos, estava parada a porta do escritório vestindo uma calça escura, jaqueta e botas, os olhos azuis claros estavam fixos no rosto de feições fechadas de seu companheiro e senhor.

- Esse vira latas miserável tinha que escolher a melhor hora e local para despertar, não é mesmo!... Agora tenho dois outros puros sangues rondando a cidade e uma possível licantropa hospitalizada... Além da possibilidade de caçadores estarem rondando a cidade por causa dessa divulgação toda... Não é motivo de sobra para estar preocupado?

Leon possuía um tom áspero na voz, mas Priscila nem mesmo se importava, logo suas finas mãos estavam sobre os ombros de Leon os massageando.

- Acalme-se, meu amor... Não detectei mais o desperto, acredito que ele tenha deixado a cidade... Os dois que estão a sua procura logo partiram ao verem que ele não estava aqui... A garota... Temos até a próxima lua cheia para cuidar dela, isso se nenhum caçador o fizer por nós...

- Restringi a caça de meus homens, tenho vários recém-criados aqui, sabe o quanto eles são sedentos e instáveis... Ninguém gosta de ficar bebendo sangue de bolsas... Mas devemos chamar o mínimo de atenção... Não estamos em condições de novos conflitos...

Priscila parava a massagem, envolvendo o pescoço de Leon com seus finos braços e beijando o rosto do vampiro.

- Esta sendo cauteloso, meu amor... Tomaremos todas as medidas necessárias para manter tudo em ordem... Não há razão para se preocupar...

- Veremos... Veremos... Assim espero...

Os olhos de Leon estavam fixos na tela do notebook sobre a mesa. Nela havia a foto sem foco do grande lobisomem negro.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

AVISO

Aviso

Aos leitores do Blog... Peço desculpas pelo desaparecimento súbito, tive alguns contra tempos além de um acidente que me impossibilitou de escrever por um tempo...
Mas estamos retomando a todo vapor o blog e a trama de Lua e Sangue...

Estarei intensificando as postagens para compensar...

Agradecimentos especiais ao meu morsinho, que não me deixou desanimar...

Abraços a todos e aguardem os Novos Capítulos...

terça-feira, 5 de abril de 2011

Capitulo 4


Capitulo 4

Havia se passado pouco mais de uma semana desde que Victor estava com Natássia.
O corpo de Aline fora cremado e as cinzas jogadas ao vento seguindo as instruções da vampira. Segundo ela, uma medida de segurança para que nada de mal pudesse ser feito tanto para o corpo como para o espírito da noiva do lobisomem.
Encontravam-se refugiados na casa da vampira, uma discreta residência de muros altos e cinzentos localizada no Morumbi. O local era consideravelmente grande para apenas sua morada, duas salas e uma cozinha espaçosa, dois quartos com um sendo suíte, além da grande garagem e área de serviço. Tudo mera fachada para o verdadeiro lar. Por dentro do armário embutido da suíte havia uma passagem que levava a uma escadaria, chegando até uma grande porta de ferro com símbolos estranho. Por detrás da porta havia apenas uma sala. O piso era de mármore escuro, havia um sofá grande de couro e uma TV de plasma, assim como uma mesa de mogno negro mais ao fundo. Uma das paredes próxima a mesa continha uma prateleira de livros semelhante a uma biblioteca. A vampira havia expressamente proibido ao lobisomem que ele mexesse em seus livros, alguns com cara de serem muito antigos, fato que não era problema, já que Victor não entendia romeno, grego, latim, entre outras línguas ao quais os livros foram escritos.
O cômodo não pareceria necessariamente sombrio senão pelo caixão ao centro da sala secreta.
Um grande caixão negro com entalhes em ouro, o mausoléu da vampira. Victor estava ali, deitado no sofá, esperando o despertar da criatura que repousava dentro do caixão. Não cofiava nem um pouco naquela mulher, tanto em sua natureza humana assim como em seus instintos primitivos, mas no seu caso, que opções ele tinha? Natássia já se mostrara útil explicando mais sobre ele mesmo e o que estava acontecendo.
Victor era um lobisomem, um puro-sangue nascido do cruzamento de um loup-garou com uma humana. Seria por isso que nunca conhecera seu pai? Sua mãe saberia de tal fato? Se sim, ela havia levado isso consigo quando falecera.
O lobisomem se acostumava aos poucos com a mudança de hábitos, a troca do dia pela noite, tinha que se acostumar com tal fator já que sua suposta salvadora adormecia ao nascer do sol e despertava quando este se punha.
Seu emprego provavelmente já teria ido para o espaço, mais de uma semana sem trabalhar, nem mesmo um simples telefonema avisando de sua ausência. Segundo Natássia, era necessário que ele desaparecesse. Poderiam estar esperando por ele, qualquer simples descuido poderia ser fatal.
O que todos estariam pensando? Ele e Aline simplesmente haviam desaparecido. A mãe dela havia sido morta, poderia ser um suspeito?
O som do caixão se abrindo fazia com que Victor despertasse de seus pensamentos erguendo a cabeça do sofá voltando assim sua visão para o caixão. A tampa se abria e Natássia se erguia lentamente vestindo uma camisola de seda negra semi-transparente como uma bela lingerie de seda por baixo, não havia como negar que aquela criatura era bela, sombriamente bela. As íris vermelhas se focavam em Victor enquanto assumiam novamente o tom negro:

- Boa noite...

A vampira se levantava deixando seu refúgio sagrado, os caninos se retraiam lentamente enquanto parecia se espreguiçar como uma humana comum após acordar de um pesado sono. Os longos cabelos soltos caiam pela lateral da face da vampira, tampando parcialmente um lado de seu rosto.

- Como foi seu dia? ... Conseguiu dormir um pouco?  - A voz de Natássia era suave e doce, como se realmente se preocupasse com este fato, coisa que Victor duvidava.

- Maravilhoso... Já faz uma semana que eu estou aqui em baixo sem fazer nada... Nem mesmo posso sair deste quarto... Não podia ser melhor...

- Quanta ironia no seu tom de voz, meu caro... Este é um mal necessário, como já havia lhe dito antes... Aqui você está seguro... 

- É mesmo? E afinal de contas... Por quê? ... E do que?

Natássia sorria, caminhava para a porta de metal com desenhos estranhos, runas e inscrições arcanas entalhadas no metal, suas mãos tocavam levemente a porta.

- Nesta câmara, você não pode ser rastreado... Nem mesmo pelo mais potente feitiço ou encantamento... A lua cheia terminou, este é o momento em que um loup-garou recém-despertado está mais vulnerável e confuso... O momento ideal de ser caçado... Pois normalmente ele ainda não tem conhecimento sobre o que realmente é... Não dominou a besta, não podendo controlar seus poderes e invocar seus dons... É o momento ideal para ser destruído... – A vampira sorria levemente, um sorriso mórbido. – Então neste momento nossos inimigos devem estar a sua procura...

- Nossos inimigos... Afinal... Do que você está falando?

- Homens... Sempre impacientes... Façamos da seguinte forma... Aguarde um momento enquanto me troco, não acho apropriado permanecer com estas vestes na sua presença... Não somos íntimos a este ponto... Quando voltar terá respostas para suas perguntas...

A mulher nem mesmo esperava a resposta de Victor, abrindo a porta e saindo do recinto subterrâneo. O lobisomem por sua vez deitava no sofá praguejando, mas tudo que restava era esperar.


****

Natássia não demorava a voltar e logo a porta de metal era aberta trazendo a vampira de volta ao recinto. Victor se levantava sentando no sofá enquanto Natássia caminhava até seu caixão, vestia calça de couro negro com botas de cano alto, um justo espartilho com o sobretudo de couro sobre o corpo.

- Muito bem... Por onde deseja que eu comece? – Dizia a vampira sentando sobre seu caixão.


- Você disse que é uma vampira e eu sou um lobisomem... Por quê?

- Sim... Eu sou uma Strigoi, ou vampira se prefere este termo... Meu corpo está biologicamente morto, mas este fato não impede que eu caminhe noite após noite por este mundo... Sou fisicamente mais forte do que qualquer mortal, pois não estou presa as limitações da vida e posso me tornar ainda mais rápida e forte usando os dons do sangue...

- Dons do sangue?

- Exato! Este é o nome que temos para nossos poderes sobrenaturais. Nossos sentidos são mais apurados, somos mais rápidos, fortes e resistentes que um mero mortal e ainda podemos amplificar estes fatores com o uso do sangue que tomamos de nossas vítimas. Da mesma forma que podemos utilizar o sangue para fechar ferimentos de forma instantânea.


- E quanto ao lance de virar morcego, água benta, cruzes, estaca, etc.?

- Alguns de nós realmente dominam a habilidade de se transformar em um animal, esta é um dom de sangue raro... Outros dominam outras habilidades como controlar o tempo ou invocar chamas... Estes são dons raríssimos, poucos de nós conseguem dominar tais conhecimentos...

A vampira fazia uma curta pausa. Esperaria por um momento para que Victor pudesse absorver todas as informações antes de prosseguir.

- Quanto à água benta... Cruzes... Não poder atravessar água corrente... Meros mitos... Fogo e luz do sol são mortais para nós... Uma estaca cravada no coração nos paralisa desde que ela transpasse o coração e permaneça ali.


- Então é assim que podem ser mortos... Fogo e luz do sol?

- Eu já estou morta, meu caro... Mas a melhor forma de se destruir um strigoi é cortando sua cabeça e queimando seu corpo e cabeça separados... Também empalar e queimar é uma forma eficaz... Pode-se também empalar e esperar o nascer do sol... A luz do maldito sol nos queima de uma forma horrível e dolorosa...


- Ok... Mas como vocês surgem?

- Vampiros “nascem” quando um strigoi toma o sangue de um humano e depois oferta um pouco de seu próprio sangue amaldiçoado... A transformação é algo doloroso, muitos não sobrevivem ao processo... Os poucos que conseguem sobreviver nascem para a escuridão como strigois...

- Quer dizer que você precisa sugar o sangue e depois dar sangue?

- Sim... Quando desejamos criar outro de nossa espécie... Também somos capazes de criar Dampiros...

- Dampiros?

- Sim... Não são muito diferentes dos licantropos que os loup-garous criam... Quando tomamos o sangue de um mortal, de certa fora o marcamos com a nossa maldição da escuridão... Um Dampiro nada mais é do que um humano que fora mordido por um strigoi e não recebeu seu sangue depois... Dampiros são seres úteis, mas não são tão poderosos como um vampiro... Porém são capazes de usufruir de alguns de nossos poderes como força, velocidade, resistência... Mais fortes que qualquer humano comum, porém ainda capazes de permanecer acordados ao dia e caminhar sobre o sol... Precisam de sangue para manter seus poderes ativos, mas ainda podem se alimentar normalmente da comida humana... Servos realmente úteis... Quando um strigoi não deseja criar um Dampiro, basta matar sua vítima...


Victor não conseguia esconder o quanto estava abismado, tudo aquilo seria realmente real? Não havia o porquê duvidar de Natássia, que novamente parecia esperar que o lobisomem absorvesse as informações.

- Estás bom para você assim? ... Ou deseja que eu explique novamente?

- Não... Não... Está bom... Mas sobre o...

- Lobisomens? – A vampira terminava a frase de Victor. – Como nós strigois somos os filhos da escuridão, vocês são os filhos da Lua... Devo lhe informar que é uma raça quase extinta nos dias atuais, devido aos séculos de cruzamento com os meros humanos...

- Quer dizer que eu sou filho de um lobisomem com uma humana?

- Provavelmente... As fêmeas puro-sangue são mais raras, o despertar parece ser mais fácil nos machos... É um puro-sangue como já havia lhe dito... Os loup-garous são influenciados pela lua... A intensidade de seus poderes esta ligada diretamente as fases da lua... A transformação durante a lua cheia é inevitável e é sobre a lua cheia que acontece o despertar, ou a primeira transformação...

Natássia realizava uma curta pausa, possivelmente Victor já entendia este fator.

- Quando um puro-sangue transformado na lua cheia morde um humano durante o ataque e este sobrevive... Ele se torna um licantropo... Durante a lua cheia ele irá se transformar, apesar de sua transformação não ser completa como a de um puro-sangue... Assim como a minha mordida transmite a maldição das trevas, a sua transmite a maldição da lua...

- Quer dizer que isso é como uma doença? ... Um vírus?

- Se quiser definir desta forma...

- E como podemos ser... Mortos?

- Da mesma forma que somos vulneráveis a luz do sol e ao fogo, vocês são a prata... Basta uma bala de prata em seus corações para lhes dar um fim... Ferimentos causados por prata também não se regeneram rapidamente... Outra forma eficaz é a decapitação seguida de se arrancar o coração e cremá-lo. 

- Mas nós lobisomens estamos quase extintos certo? ... Se nos transformamos na lua cheia... Como fazemos isso nas outras luas?

- Existe um grupo entre vocês loup-garou que se denominam Raça Pura... Lobisomens que apenas cruzam com lobisomens para manter a pureza do sangue...  Com o tempo, alguns de vocês são capazes de dominar a fera que habita suas almas e assim dominar a transformação... Na verdade, este é o meu objetivo com você...

- Como é? ... Você quer me ensinar a me transformar?

- Logicamente... Se não dominar esta habilidade, não será capaz de usar os dons da lua e também não será adversário para nenhum strigoi... Por isso o mantive aqui... Para que imaginassem que não está mais na cidade.


Victor se levantava subitamente, então era isso, ela queria um cão de briga para ajudar na sua vingança contra sei lá quem. O que afinal de contas ele estava fazendo ali?  Por outro lado, precisava de Natássia. Segundo a vampira, ela seria capaz de ensinar como se transformar, como dominar a besta, como ela mesma dizia.

- Muito bem... Mas contra quem estamos lutando? ... Quem é esse inimigo comum?

- Tudo ao seu tempo... Já tivemos explicações demais para uma noite... Acredito que seja o momento certo de começarmos seu treinamento...

Natássia levantava do caixão caminhando para a porta, abrindo-a e então voltava seu olhar para Victor.

- Não desejava sair deste local... Já é o momento certo... Vou lhe ensinar a dominar a besta e assim controlar sua transformação... Venha...

A vampira começava a subir a escadaria para fora do refúgio secreto. Victor por sua vez permanecia parado por alguns momentos e logo seguia Natássia. Os preparativos para a vingança estavam começando.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Capitulo 3

Capitulo 3

A besta de pelos negros novamente ganhava as ruas, em seus braços o corpo sem vida de Aline. Rapidamente se afastava da casa de sua noiva saltando o muro sem dificuldades e avançando por entre as casas, o enorme corpo erguido sobre as duas patas traseiras enquanto seus braços carregavam o corpo de sua amada noiva, o som das sirenes da viatura era facilmente percebido por sua aguçada audição, mas a fera já estava longe, já havia ganhado distância. Seu desejo incansável por caçar parecia ter sido tomando pela dor da perda de sua amada. O que era aquele sentimento? Uma fração da consciência humana na mente do monstro? Seria Victor por detrás da mente selvagem da criatura?
Não importava, naquele momento tudo que havia em sua mente era dor, agonia, raiva. Sim, raiva. O que eram aqueles seres cujo simples odor instigava a avançar, a destroçar e dilacerar sua carne fria e sem gosto?

As casas eram rapidamente deixadas para trás dando lugar às ruas escuras e vazias da periferia da grande cidade. O monstro parava, os olhos dourados sobre o corpo em seus braços, um corpo frio cujo sorriso que tanto amava nunca mais veria, a fera urrava, um uivo estridente e pesado, um uivo de pura tristeza.
Prosseguia, sem rumo, apenas vagando com o corpo em seus braços, sem conseguir mais identificar o odor daqueles seres que já odiava, mas não era ódio que vinha apenas da fera, e sim um sentimento mútuo vindo tanto da besta como de Victor. Eles a haviam matado, ele os odiaria por isso e a fera os odiava por puro instinto.

Continuava avançando rua por rua, beco por beco, viela por viela... Por quanto tempo havia vagado? A noite se mostrava prestes a terminar. Já parecia estar quase fora da cidade quando avistou a velha construção, um galpão abandonado e tomado pelo mato alto e ferrugem. Seguiu para aquele refúgio transpassando sem dificuldades e cerca de arame farpado, caminhando pelo capim alto até a velha porta trancada por uma grossa corrente com cadeado, inúteis perante a força da besta que os quebrava com um simples puxão.
Adentrou no grande galpão tomando pela poeira, algumas caixas velhas espalhadas por todo o local, as janelas quebradas pela depredação com alguns cacos ainda espalhados pelos cantos, o cheiro forte de mofo e sujeira, o sol começava a nascer, a fera estava cansada, sentia sua força se esvair conforme o amanhecer chegava. Aline era colocada próxima a algumas caixas, a enorme pata dianteira tocava levemente seu rosto, o monstro estava fraco, o corpo começava a perder as forças, os pelos e músculos se retraindo voltando a sua forma original, os olhos ferozes perdiam o tom dourado se tornando azuis, o monstro tombava ao lado de Aline onde agora apenas o corpo nú de Victor inconsciente restava.


***

Novamente já era noite quando Victor despertava, o corpo nú estava pesado, sentia-se cansado, os pensamentos vagos.
Onde estava afinal de contas?
Os olhos vagavam pela escuridão que cobria o local. Como podia enxergar tão bem com a ausência quase total de luz, o que afinal estava acontecendo com ele? Perguntas e pensamentos começavam a povoar sua mente até que seus olhos encontrassem o corpo sem vida a seu lado. ALINE. O que havia acontecido?

- Aline...? ALINE... ALINE...

Gritos, dor. O cansaço físico e dúvidas eram totalmente esquecidas. Aline... Aline...
Victor segurava o corpo envolvendo-a em seus braços. Estava fria, sem vida, morta.

- Aline? ... O... O que houve...? Aline... Não... NÃO... NÃO...

O corpo de Victor tremia, os olhos fixos aos furos no pescoço de Aline, o que era aquela sensação, sua mente lhe trazia lembranças, lembranças da fera. Os três de pele fria cujo cheiro instigava a fera a atacar. Um deles, a mulher, fora até a casa de Aline. As visões eram quase nítidas agora, o que aquela mulher teria feito a Aline? O corpo tremia violentamente apertando ainda mais o cadáver de Aline contra seu peito, os músculos pareciam querer ganhar volume. Ódio. Victor queimava em ódio por dentro sem nem mesmo entender o motivo.
Aquela mulher havia matado Aline? O que eram aquelas coisas? O que ele era?
Os pensamentos pareciam se escurecer sentindo a fera dentro dele rugindo de fúria, ele mesmo estava queimando em fúria e isso fortalecia o lobo.
Um som de metal vinha da porta. Victor rapidamente voltava seu olhar com os olhos dourados para o local. Havia mais alguém ali. Sim, havia alguém encostado a porta, uma mulher.

- Boa noite...

A voz suave percorria o ambiente, a mulher estava levemente encostada à porta, vestia calças jeans escuras com botas de cano alto, uma blusa justa deixando o umbigo a mostra com a pequena jaqueta de couro aberta por cima, a pele clara e pálida, longos cabelos negros que desciam até a metade de suas costas, lisos no inicio e com leves ondulações, os olhos de íris negras fixos aos dourados de Victor. Em momento algum parecia se importar com o fato do rapaz estar nú a sua frente.

- Quem é você? – A voz mais parecia um rosnado, a mulher sorria pelo canto do lábio em resposta ao tom.

- Natássia... E você é?

- O que faz aqui?

- Estou aqui para ajudá-lo... – A mulher mantinha a voz calma.

- Me ajudar? ...

Victor parava a frase, aquela mulher tinha o mesmo odor que os três da última noite, o mesmo odor da mulher que matara Aline. Mesmo o cheiro estando mais leve ao olfato, podia sentir.
Natássia rapidamente deixava a porta quando Victor, urrando, avançava contra ela. Suas íris mudavam para um tom vermelho vivo, conseguia desviar do soco que afundava um pedaço da velha porta de metal.

-VOCÊ MATOU ALINE... – Victor grunhia, a face deformada onde os dentes começavam a se afinar, os músculos pulsantes, estava prestes a explodir. Natássia abria um largo sorriso com a cena, mostrando certa satisfação.

- Magnífico... Está a um passo de se transformar voluntariamente... E pensar que acabara de despertar...

- Maldita... Do que você esta falando? ... Afinal de contas o que vocês são? Porque mataram a Aline...? RESPONDE...

Novamente Victor investia, as unhas já assumiam uma forma mais afiada, os olhos possuíam um tom dourado, as palavras saiam como rosnados, sentia o corpo ferver, avançando contra a mulher. Natássia novamente desviava do golpe do punho direito de Victor, porém era agarrada pelo braço esquerdo deste que a erguia sem dificuldades. Ele rosnava e ela grunhia de volta, os longos caninos a mostra. Victor levava um chute em seu rosto, não forte o suficiente para lhe causar algum dano, mas ainda assim forte o bastante para fazê-lo recuar soltando Natássia.

- ACALME-SE... Não sou sua inimiga... Pelo contrário, estou aqui para lhe oferecer ajuda... Se assim fosse minha vontade, teria lhe matado enquanto estava desacordado...

Havia uma curta distância entre eles. Victor tremia, tentava conter a fera que desejava sair. Natássia recuava alguns passos, as presas se retraiam, porém os olhos ainda mantinham o tom vermelho vivo, atentos.

- Sou uma Strigoi... Ou se preferir, pode usar o termo vampira... Os outros da noite passada também eram strigois, ou vampiros... Particularmente não gosto desta definição...

- Vampiros? ... E o que eu...

- Loup-Garou... – Natássia respondia antes mesmo de Victor terminar a frase. – Ou se preferir, use o termo lobisomem...

Só podia ser brincadeira, a informação parecia trazer a mente de Victor de volta ao controle, a fera ainda estava ali, querendo destruir a mulher a sua frente, mas o choque daquela informação fazia Victor recuar. Seria realmente possível?
As íris dos olhos de Natássia voltavam para o tom negro ao ver Victor mais calmo, os músculos começavam a perder volume, a mandíbula voltava ao formato humano, apenas os olhos permaneciam dourados, porém em um tom menos vívido.

- Na verdade você é um puro-sangue... Descendente direto de lobisomens...  Aquela que matou a mulher que esta atrás de você – Natássia apontava para o corpo de Aline – serve a um inimigo meu... Eles pretendiam lhe destruir...

- Me destruir? Por quê?

- Simples... Você é um loup-garou... Digamos que nossas espécies são inimigas naturais... O fato de haver um lobisomem em seu território é um grande problema... Ainda mais um puro-sangue... É mais fácil destruí-lo logo após seu despertar, quando você ainda não sabe controlar seus poderes... A mulher nada mais foi do que uma vítima...

- Aline... Foi uma vitima? – Novamente os tremores percorriam o corpo de Victor, os olhos se acendiam no tom dourado – E se somos inimigos naturais... Então porque você quer me ajudar?

- Simples... Iamic al inamicului meu este prietenul meu ... Ou... O inimigo do meu inimigo é meu amigo... Aqueles três nada mais eram do que rastreadores, apenas seguindo ordens...

Natássia fazia uma pausa, as mãos delizavam pelos longos fios de cabelo negro, Victor parecia mais clamo, havia uma certa relutância em aceitar tudo aquilo, mas como negar? Tudo fazia sentido levando em conta a explicação da vampira.

- Minha proposta é simples... Posso lhe ensinar mais sobre você mesmo... Como controlar a fera, utilizar seus dons e poderes... E tudo que desejo em troca é sua ajuda para destruirmos um inimigo em comum... O que diz?

Natássia estendia a mão para Victor, seus olhos negros sobre os olhos azuis do homem nú a sua frente. A vampira sorria. A mão estendida à espera da resposta do lobisomem.